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Em Viseu, Ruy de Carvalho diz: “Temos de deixar bem claro o que se viveu na ditadura”


Rafael Teixeira Sexta, 29 de Março de 2024

“O Rui é um jovem e é o avô de todos os portugueses. Todos temos a aprender com ele e nas viagens desde Lisboa até aqui, em Viseu, vem sempre a contar histórias. É incrível como com 97 anos não se esquece de nada”. O elogio era proferido por Nélson Mateus, que ontem inaugurou, na Casa da Ribeira, a exposição Retratos Contados de Ruy de Carvalho, onde podem ser vistas várias fotografias que ‘desenham’ o percurso da carreira no teatro do ator.

A foto mais antiga da exposição, à excecção de um retrato de Ruy de Carvalho, é de 1962, onde o ator está com Carmen Dolores. Podem também ser encontradas fotografias com Armando Cortez um dos seus maiores amigos, que curiosamente dá nome a rua onde hoje vive.

“Adoro estar na vossa terra. Conheço-a bem. Vim cá trabalhar muitas vezes, no Teatro Avenida”, admitia o ator. No ano em que se celebra o 50.º aniversário de 25 de Abril, o ator, com 82 anos de carreira – 97 de idade – recorda os tempos da censura.

“Cortavam-mos muita coisa e portanto tínhamos de improvisar. Tínhamos de arranjar maneira de as pessoas entenderem o que foi cortado. O ator recorda que a censura chegou a cancelar peças de teatro, que, quando foram finalmente exibidas pôs 25 de Abril, “ninguém as foi ver”.

Ruy de Carvalho enfatizou que “todos nós somos o Ministério da Cultura”, o que quer dizer que é preciso que o publico vá ao teatro. Para a cultura progredir, é preciso espetadores. “Qual é a frase mais bonita do 25 de abril? O povo é quem mais ordena. Não se esqueçam. E por isso são o Ministério da Cultura. Temos uma arca do tesouro que se chama cultura: encham-na cada vez mais. 

Temos de pensar que um povo que tem a sua arca preenchida por riqueza como a música e a arte leva a um progresso feliz”, apelava.

“Não se pode celebrar abril como se celebra a Implantação da República. Temos de deixar bem claro o que se viveu na ditadura”, acrescentou. 

Num tom mais jocoso, Ruy de Carvalho contou uma história aos visitantes da exposição. 

“Fiz uma peça num dia de inverno. Mas a peça passava se no verão. Então, um Bombeiro Voluntário tinha grande pena de mim, veio, e foi-me buscar uma garrafa de jeropiga. Bebi a garrafa toda mas fiquei cheio de frio na mesma”, gracejou. 

A exposição, inaugurada na quinta-feira, estará patente por um mês na Casa da Ribeira (27 de abril).




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